terça-feira, 13 de junho de 2017

Rua Santa Efigênia

Naquele sábado eu estava decidido a sair, era hora de trocar a placa-mãe do meu velho notebook, era ruinzinho, coitado, mas me deu muitas alegrias, muitos poemas criamos juntos, só nós dois. Resolvi ir até a Santa Efigênia, lá no centro, uma viagem longa pra quem é da periferia. Gosto de andar naquelas bandas da cidade, muitos prédios antigos, cheios de histórias pra contar. Vi uma movimentação grande de pessoas, quando passando pela Avenida Rio Branco. Muitos viaturas policiais. Jornalistas. Veículos de várias emissoras de tv, com suas antenas erguidas, quase em sinal de louvor, apontadas para o firmamento. Perguntei o que estava acontecendo a um senhor que lá estava, olhando para o último dos quatro andares do edifício. "Não sei", disse ele, hipnotizado. Parecia uma procissão da festa de Bom Jesus dos Navegantes, em Aracaju. Mas sem toda aquela pompa e glória. Todos vislumbravam algo, olhavam para o mesmo lugar: janelas no terceiro andar - é o que parece. Um prédio antigo, mofado, bem de esquina, lembra muito os casos contados por Hiroito, em Boca do Lixo. Os repórteres tagarelavam, tentando entender o que acontecia naquele lugar; um outro chegou a dizer que, possivelmente, eram membros do Estado Islâmico traçando um atentado para Brasília. Uma mulher chorava, bendizendo um dos vitrais quebrados do primeiro andar: "Veja! é Santa Madalena, encarnada, Eis o formato de sua exuberância naquela sombra da janela", dizia em prantos. O policial mais velho, tinha um bigodinho tingido de preto, já que seus cabelos eram todos cor de nuvem, em dia ensolarada de parque do Ibirapuera. Já estavam lá o pipoqueiro, o senhor português com um carrinho de batatas fritas e amendoins doces, a caixa de isopor acima do ombro do jovem que gritava: "Refrigerante, água, cerveja. Quem vai querer?". Até mesmo um traficante de drogas portava maconha, cocaína e crack para o comércio, confesso que o movimento em volta dele estava maior que o do tiozinho que vendia algodão doce. Alguém disse que o papa foi chamado, até o serviço secreto dos Estados Unidos da América estava infiltrado naquele local. Fiquei por alguns minutos, sem descobrir o que realmente estava acontecendo. Foi o dia em que São Paulo parou, sem motivos aparentes, sem que soubessem explicar o que iniciou o tumulto e nem o que o fez sessar três dias depois. Uma coisa é certa, meu notebook está na ativa novamente. Gosto de ir à Santa Efigênia.