quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Rumo ao sol nascente

Ela saiu do Largo do Arouche, às 3h30 da manhã de sábado. Um bafo de estação Vila Olímpia, da CPTM. Seu vestido estava menos sujo que o morto Rio Pinheiros, mas indicava com dedo indicador, ossudo e longo, que não estava tudo bem. Quase bêbada, sem ter aonde ir. Sentou-se no banco do ponto de ônibus. Aonde vais? Não sabia. Lágrimas de dissabor, desespero. Pensamentos desencontrados, trombavam nas nuvens carregadas de seu coração tristonho. "O que eu faço agora?", pensou. Nenhuma solução. Andou por mais de 23 quadras, sentido zona sul. Exausta. Caiu na calçada, ralou joelhos e braços. Poucos carros arriscavam-se naquela madrugada. Nenhuma pessoa na rua, naquele momento. Frio de 12 graus centígrados corroíam sua pele pálida e seca. Com o rosto entre suas pernas, as lágrimas fazendo carinho em seu rosto, deformado pela maquiagem não retocada. Uma sombra parou ao seu lado. Ela ergueu a cabeça. Era um homem vestido de palhaço. Ele tirou três bolinhas coloridas do bolso de seu casaco alaranjado. Fez malabares por alguns segundos. Olhou pra ela e sorriu. Partiu o heroico palhaço, adentrou uma rua escura, após virar a esquina daquela avenida. Ela se levantou. Secou as lágrimas. Com os sapatos de salto ponta de agulha em riste, andou rumo ao sol nascente.