O fone de ouvido tocando uma seleção musical de Fernando Mendes. Cama
bagunçada há 18 dias, 3 horas e uma vida inteira passando na avenida do
meu peito.
Você puxou meu tédio e o apontou para minha ânsia de
felicidade. Rasgou todo sonho de cumplicidade que pairava na devoção que
tinha de seu jeitinho santo.
Não senti falta da literatura, que me
obrigou a abandonar como um cachorro que já não servia para preencher
algum espaço, no quintal de alguém. Usei roupa social e
fui trabalhar no escritório sombrio, frio (como um palhaço já cansado
de sofrer por dentro, no peito cicatrizado por alguma angústia que nunca
passa), do seu amigo Alfredo. Aguentei, calado e sorridente, todos os
seus amigos, que mais pareciam intervalo de programa de domingo à tarde.
Devotei tua maldita religião, na esperança de que seu deus pudesse
manter você ao meu lado.
Doei meus livros de poesia para abrigar sua autoajuda, na estante do corredor.
Agora eu assisto os minutos derradeiros de um perdão não dado, de silêncio eterno, após tua doce voz me dizer que "vagabundo não se endireita", "volte a vomitar vodca tosca, numa rua qualquer da zona sul", "Tentei te endireitar, tentei!".
Me levou para seu abismo escuro, sepulcral. Um muro cinza, sem frases de um coração partido.
Tirei a gravata... me deixei cair infinitamente sobre o lençol cheirando a sexo, como uma despedida... um funeral triste, sem volta.
Doei meus livros de poesia para abrigar sua autoajuda, na estante do corredor.
Agora eu assisto os minutos derradeiros de um perdão não dado, de silêncio eterno, após tua doce voz me dizer que "vagabundo não se endireita", "volte a vomitar vodca tosca, numa rua qualquer da zona sul", "Tentei te endireitar, tentei!".
Me levou para seu abismo escuro, sepulcral. Um muro cinza, sem frases de um coração partido.
Tirei a gravata... me deixei cair infinitamente sobre o lençol cheirando a sexo, como uma despedida... um funeral triste, sem volta.