terça-feira, 28 de novembro de 2017

O elevador

Nice balançou a cabeça positivamente para o que sua visita falara. A chaleira apitou alto, como a maria-fumaça, avisando que está chegando na estação.
- Aceita chá? ela perguntou a alguém sentado na poltrona amarela, posta do lado do sofá azul marinho, de dois lugares.
- Claro! - devolveu com voz suave, de pernas cruzadas, curvara-se para a frente, afim de localizar Nice, na cozinha.
Quatro sachês: dois para cada xícara; água fervida, borbulhava até deslizar para os recipientes de porcelana branca, com delicados desenhos de um jardim real.
- Açúcar ou adoçante? indagou a anfitriã.
- Tomo puro mesmo - respondeu da sala, tragando um cigarro de filtro branco.
Nice voltou com uma bandeja equilibrando duas xícaras que sopravam fortemente a fumaça vivaz - que insistiu em não abandonar aqueles que estiveram consigo, quando surgiu na fervura, conectada àquele ambiente, viu-se em desespero, sendo expulsa do convívio familiar - perdendo-se no ar.
Sentou-se Nice. Olharam-se. Sorriram.Conversaram sobre temas diversos, coisas que tinham em comum: filosofia, arte, teatro, principalmente sobre o tema solidão. Gostavam de conversar, como se tudo mais não existisse. O tempo pairava ao lado, saboreando a conversa, os olhares, o movimento da boca, os gestos.
- Preciso ir. Vou buscar minha avó, ela ficará com mamãe este fim de semana. Elas se adoram - completou a visita.
- Tudo bem - respondeu Nice - espero te ver novamente, um dia..., engasgou, segurando a porta.
Um beijo. Um toque leve de lábios. Sorrisos pálidos. Olhares perdidos.
- Então adeus - disse Nice, recebendo um abraço forte como resposta.
Lágrimas.
O elevador chegou, abriu a porta, ordenando que a visita fosse logo embora.
- Verônica?!?! gritou Nice, na esperança do elevador se compadecer e não seguir seu destino. 
Um fechar eterno. Sem volta.