domingo, 31 de dezembro de 2017

Margaret Keane

Seus olhos são obras de Margaret Keane
Vejo-os faiscar estrelas do mar
Toda mentira torna-se poemas incrustados
Em cavernas afundadas no vale dos ossos
Neles há solidão, como remédio genérico vencido
Os acordes de sua pupila dilatada
Reluzem uma tocata de Bach

Esta distância é muro alemão:
Só a liberdade de nosso afeto pode derribar
E mesmo assim profetizei destruição:
No horizonte petrificado e cinza de seu coração
Fumando narguilé e vendendo tóxico à burguesia
Destituir-se-ia de transcendentalismo e compaixão

Seus olhos agora são sapos esmagados
Quando tentavam atravessar as estradas de Pernambuco
Um destino incerto após dia de chuva
Sua brevidade escandaliza meu agônico prazer
Privando-nos de lucidez anárquica
Incendiando-nos de putrefações do coração
E a cura se chegará no botequim das ilusões
Pálidos olhos negros e mortos
Minha tendência é a sombra
Minha vida já não é, porque teus
Olhos de Margaret Keane, já não são