O quadro torto, quase caindo da parede,
O relógio velho já não faz tic tac,
A casca seca, no canto escuro, atrás do rack,
[simbolizando o que já foi uma barata,
[assassinada pelo tédio,
O litro quebrado de rum cubano (que não
[tomei), seus cacos ainda em cima da pia,
O cinzeiro com cigarros amassados, nunca
[acesos,
O revólver na gaveta de meias, sem
[munição, enferrujando minha memória,
Meus cabelos brancos insistem em manter
[minha cara ainda mais decrépita,
Os dentes amarelados pelos cafés de uma
[vida inteira de insônias e agonias,
[transcendem o fígado calejado de [cachaça barato.
As feridas corroem o pé esquerdo:
- Maldita diabetes!
Os vermes alimentam-se das sobras de
[comida deixadas na panela queimada,
[em cima do fogão fragmentado-se
[em ferrugem,
O cheiro forte do gás, ligado pelo demônio
[em minh'alma, já absorve
[o que me sobrou de raciocínio
O corpo enfraquece.
Um sorriso manchando interrogações,
Uma última música toca no amargo peito:
"(...) Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio (...)"