sábado, 11 de maio de 2019

Apesar do calor

Foi um caminho calmo apesar do calor. O sol enegrecia a pele de meus pensamentos abatidos como estrada velha, entre solidão e suicídios. As léguas que andei não encurtaram propósitos. Nem a sede de teus olhos flutuantes, frescos saciaram meu desespero. Nem mesmo a dança dos arbustos secos, instigados por lembranças minhas. E mesmo se as rédeas que sangravam abstinências, não distrairiam-me por pouco menos que uma vida. O caminho era calmo apesar do calor. A lembrança daquele doce menino que repetia no ar "olha a borboleta, papai"! Ah, o beijo doce da brisa que atravessou tortuosas alamedas e avenidas para beijar minha cansada face. E sussurrar a trilha sonora de um filme que ninguém viu, mas que estava na estante, empoeirado, querendo sempre dizer algo, gritar caminhos calmos apesar do calor.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Vinhedo

                                                                                                  (Para Andreza)
                                                             

As uvas que colhi de teus olhos maduros
Renderam-me delicado cálice de furtivas reações químicas
Meu cansado e decrépito corpo aflito e destituído de raras alucinações
Vela por ti

.

Nos conectamos em tapete egipciense,
Calafrios bordados, em frente à lareira de carne sangue e coração

.

Quisera eu colher de sua parreira, o sorriso de meus sonhos
Aqueles que afloram ramos sadios, de um belo planalto
Ao entardecer.

domingo, 31 de dezembro de 2017

Margaret Keane

Seus olhos são obras de Margaret Keane
Vejo-os faiscar estrelas do mar
Toda mentira torna-se poemas incrustados
Em cavernas afundadas no vale dos ossos
Neles há solidão, como remédio genérico vencido
Os acordes de sua pupila dilatada
Reluzem uma tocata de Bach

Esta distância é muro alemão:
Só a liberdade de nosso afeto pode derribar
E mesmo assim profetizei destruição:
No horizonte petrificado e cinza de seu coração
Fumando narguilé e vendendo tóxico à burguesia
Destituir-se-ia de transcendentalismo e compaixão

Seus olhos agora são sapos esmagados
Quando tentavam atravessar as estradas de Pernambuco
Um destino incerto após dia de chuva
Sua brevidade escandaliza meu agônico prazer
Privando-nos de lucidez anárquica
Incendiando-nos de putrefações do coração
E a cura se chegará no botequim das ilusões
Pálidos olhos negros e mortos
Minha tendência é a sombra
Minha vida já não é, porque teus
Olhos de Margaret Keane, já não são

terça-feira, 28 de novembro de 2017

O elevador

Nice balançou a cabeça positivamente para o que sua visita falara. A chaleira apitou alto, como a maria-fumaça, avisando que está chegando na estação.
- Aceita chá? ela perguntou a alguém sentado na poltrona amarela, posta do lado do sofá azul marinho, de dois lugares.
- Claro! - devolveu com voz suave, de pernas cruzadas, curvara-se para a frente, afim de localizar Nice, na cozinha.
Quatro sachês: dois para cada xícara; água fervida, borbulhava até deslizar para os recipientes de porcelana branca, com delicados desenhos de um jardim real.
- Açúcar ou adoçante? indagou a anfitriã.
- Tomo puro mesmo - respondeu da sala, tragando um cigarro de filtro branco.
Nice voltou com uma bandeja equilibrando duas xícaras que sopravam fortemente a fumaça vivaz - que insistiu em não abandonar aqueles que estiveram consigo, quando surgiu na fervura, conectada àquele ambiente, viu-se em desespero, sendo expulsa do convívio familiar - perdendo-se no ar.
Sentou-se Nice. Olharam-se. Sorriram.Conversaram sobre temas diversos, coisas que tinham em comum: filosofia, arte, teatro, principalmente sobre o tema solidão. Gostavam de conversar, como se tudo mais não existisse. O tempo pairava ao lado, saboreando a conversa, os olhares, o movimento da boca, os gestos.
- Preciso ir. Vou buscar minha avó, ela ficará com mamãe este fim de semana. Elas se adoram - completou a visita.
- Tudo bem - respondeu Nice - espero te ver novamente, um dia..., engasgou, segurando a porta.
Um beijo. Um toque leve de lábios. Sorrisos pálidos. Olhares perdidos.
- Então adeus - disse Nice, recebendo um abraço forte como resposta.
Lágrimas.
O elevador chegou, abriu a porta, ordenando que a visita fosse logo embora.
- Verônica?!?! gritou Nice, na esperança do elevador se compadecer e não seguir seu destino. 
Um fechar eterno. Sem volta.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

N. 1

Sol baixo - fim de tarde
As sombras estendem-se 
       [no tapete do crepúsculo

Sou tomado por uma melancolia aguda
Que fura minha pele
Causando séria ferida, profunda

As flores - agora coloridas - 
Foram tingidas com toda delicadeza
Cores puras, vívidas

Escorriam do quadro, suas raízes - fundas
Fincadas na carne de minhas desilusões
Representação máxima de minhas insônias.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Rumo ao sol nascente

Ela saiu do Largo do Arouche, às 3h30 da manhã de sábado. Um bafo de estação Vila Olímpia, da CPTM. Seu vestido estava menos sujo que o morto Rio Pinheiros, mas indicava com dedo indicador, ossudo e longo, que não estava tudo bem. Quase bêbada, sem ter aonde ir. Sentou-se no banco do ponto de ônibus. Aonde vais? Não sabia. Lágrimas de dissabor, desespero. Pensamentos desencontrados, trombavam nas nuvens carregadas de seu coração tristonho. "O que eu faço agora?", pensou. Nenhuma solução. Andou por mais de 23 quadras, sentido zona sul. Exausta. Caiu na calçada, ralou joelhos e braços. Poucos carros arriscavam-se naquela madrugada. Nenhuma pessoa na rua, naquele momento. Frio de 12 graus centígrados corroíam sua pele pálida e seca. Com o rosto entre suas pernas, as lágrimas fazendo carinho em seu rosto, deformado pela maquiagem não retocada. Uma sombra parou ao seu lado. Ela ergueu a cabeça. Era um homem vestido de palhaço. Ele tirou três bolinhas coloridas do bolso de seu casaco alaranjado. Fez malabares por alguns segundos. Olhou pra ela e sorriu. Partiu o heroico palhaço, adentrou uma rua escura, após virar a esquina daquela avenida. Ela se levantou. Secou as lágrimas. Com os sapatos de salto ponta de agulha em riste, andou rumo ao sol nascente.


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

No sopé do monte mais sombrio

No dia 25 de junho de 1918, 
nevou em São Paulo. 
Um dia esquisito. 
Era transmutação. 
Oswald de Andrade agasalhou-se. 
Mário de Andrade tomou chá de camomila. 
Anita Malfatti dormiu até às 9h30.
Há dias que o frio de seu coração faz nevar nas ruas glaciais,
do sopé do monte mais sombrio e indivisível de meu querer. 
Mesmo com árvores milenares queimando na lareira da solidão, 
teu olhar alvo cai na do telhado frágil de minha alma, 
num amanhecer preguiçoso, 
débil, 
com sol tímido e apaixonado, 
apontando para o horizonte.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Funeral

O fone de ouvido tocando uma seleção musical de Fernando Mendes. Cama bagunçada há 18 dias, 3 horas e uma vida inteira passando na avenida do meu peito.
Você puxou meu tédio e o apontou para minha ânsia de felicidade. Rasgou todo sonho de cumplicidade que pairava na devoção que tinha de seu jeitinho santo.
Não senti falta da literatura, que me obrigou a abandonar como um cachorro que já não servia para preencher algum espaço, no quintal de alguém. Usei roupa social e fui trabalhar no escritório sombrio, frio (como um palhaço já cansado de sofrer por dentro, no peito cicatrizado por alguma angústia que nunca passa), do seu amigo Alfredo. Aguentei, calado e sorridente, todos os seus amigos, que mais pareciam intervalo de programa de domingo à tarde. Devotei tua maldita religião, na esperança de que seu deus pudesse manter você ao meu lado.
Doei meus livros de poesia para abrigar sua autoajuda, na estante do corredor.
Agora eu assisto os minutos derradeiros de um perdão não dado, de silêncio eterno, após tua doce voz me dizer que "vagabundo não se endireita", "volte a vomitar vodca tosca, numa rua qualquer da zona sul", "Tentei te endireitar, tentei!".
Me levou para seu abismo escuro, sepulcral. Um muro cinza, sem frases de um coração partido.
Tirei a gravata... me deixei cair infinitamente sobre o lençol cheirando a sexo, como uma despedida... um funeral triste, sem volta.

domingo, 24 de setembro de 2017

Rio Moldava

As gotas d'água deslizam do lado de fora da janela, da sala
Num canto escuro da cozinha, sobras de doce de mamão,
Levadas por formiguinhas
O chiado ribomba na saída de som do rádio relógio, quebrado e colorido
O ferro de passar, cinza de tristeza lânguida, indelével

- Enquanto você se afoga nas retinas enfurecidas, num brilho azul esverdeado.

O sol intumescido: fuma um charuto, produzido em Singapura
Teu sorriso amarela as páginas de meu livro de cabeceira
Minha poesia grita sobras do almoço de quinta-feira
Kafka ecoou, sobre a ponte que rasga o rio Moldava
Sua sombra flutua sobre os antigos prédios da capital

- O que sobrou de ti dança ao som dos horrores de Mossul.
- Trincas meu coração aturdido, sob o horizonte intenso de uma vida sem memória.

sábado, 16 de setembro de 2017

Rum cubano

O quadro torto, quase caindo da parede,
O relógio velho já não faz tic tac,
A casca seca, no canto escuro, atrás do rack,
         [simbolizando o que já foi uma barata,
                       [assassinada pelo tédio,
O litro quebrado de rum cubano (que não
    [tomei), seus cacos ainda em cima da pia,
O cinzeiro com cigarros amassados, nunca
                                       [acesos,
O revólver na gaveta de meias, sem
          [munição, enferrujando minha memória,
Meus cabelos brancos insistem em manter
              [minha cara ainda mais decrépita,
Os dentes amarelados pelos cafés de uma
           [vida inteira de insônias e agonias,
              [transcendem o fígado calejado de                                                     [cachaça barato.

As feridas corroem o pé esquerdo:
- Maldita diabetes!
Os vermes alimentam-se das sobras de
            [comida deixadas na panela queimada,
               [em cima do fogão fragmentado-se
                                  [em ferrugem,
O cheiro forte do gás, ligado pelo demônio
                      [em minh'alma, já absorve
                 [o que me sobrou de raciocínio
O corpo enfraquece.

Um sorriso manchando interrogações,
Uma última música toca no amargo peito:

     "(...) Mas não tem revolta não
     Eu só quero que você se encontre
     Ter saudade até que é bom
     É melhor que caminhar vazio (...)"

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Utopia

Sorrateiro, se arrasta nos becos lúgubres
Insurgente, conta passos de trevas nas varandas
              [de casas rangendo dores crônicas
Atônito, não enxerga o peito em chamas
                                      [e sangue
Ah! O estrago da demência sombria
Campos de trigo morto, caído sob a relva
A catástrofe profetizada no pergaminho
                         [da biblioteca secreta
Casto, não compadece de suas privações
Dúbio, chora desespero e raiva flui de seus
                [lábios destituídos de sorrisos
A fome de morte devora as vísceras
A lua reflete suas fraquezas, destrutivas e vãs
Ah, se o silêncio o levasse para terras planas
Se o sal da terra lhe tirasse o fel impregnado
Se o vapor que sobe dos pântanos de sua
alma fossem céu encoberto de tristeza
                           [mas tristeza branda
Veria risos e sentimentos límpidos
               [com peixes a navegar sob sonhos
                                     [invernais
Lá seria sua eternidade sem sombra
                          [sem dúvida, sem ódio


quinta-feira, 20 de julho de 2017

Volve-se sobre as coxas grossas
Daquele delirante sorriso triturador
No cabaré as risadas são
mais altas que dose de absinto
Os suores, os cheiros ofegantes
Olhos pecaminosos rosnando

O mundo é pecado, assim sendo
Pecadores sois
O leito enterrado nos seios de pitombas
O beijo esquecido, no refúgio da baraúna
                    [sítio de tio Miguel
As línguas salpicando os batimentos
                              [cardíacos
A poesia renascendo com Rá, num dia
                  [de orvalho a abençoar
                         [e resplandecer
No finito de um instante


O Poeta

O poeta canta sonhos em versos
Sua face afaga umbuzeiros
Esta cantoria inflama as chagas do querer
O terço à mão para o refúgio noturno
O véu da senhorinha, ajoelhada...
Santuário

Ah! o poeta solitário refaz o caminho de Cristo
Seu martírio...
Viola em riste, aponta para o infinito
O poeta é tempo,
É vento,
É sombra,
É água em dia de sol quente.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Rua Santa Efigênia

Naquele sábado eu estava decidido a sair, era hora de trocar a placa-mãe do meu velho notebook, era ruinzinho, coitado, mas me deu muitas alegrias, muitos poemas criamos juntos, só nós dois. Resolvi ir até a Santa Efigênia, lá no centro, uma viagem longa pra quem é da periferia. Gosto de andar naquelas bandas da cidade, muitos prédios antigos, cheios de histórias pra contar. Vi uma movimentação grande de pessoas, quando passando pela Avenida Rio Branco. Muitos viaturas policiais. Jornalistas. Veículos de várias emissoras de tv, com suas antenas erguidas, quase em sinal de louvor, apontadas para o firmamento. Perguntei o que estava acontecendo a um senhor que lá estava, olhando para o último dos quatro andares do edifício. "Não sei", disse ele, hipnotizado. Parecia uma procissão da festa de Bom Jesus dos Navegantes, em Aracaju. Mas sem toda aquela pompa e glória. Todos vislumbravam algo, olhavam para o mesmo lugar: janelas no terceiro andar - é o que parece. Um prédio antigo, mofado, bem de esquina, lembra muito os casos contados por Hiroito, em Boca do Lixo. Os repórteres tagarelavam, tentando entender o que acontecia naquele lugar; um outro chegou a dizer que, possivelmente, eram membros do Estado Islâmico traçando um atentado para Brasília. Uma mulher chorava, bendizendo um dos vitrais quebrados do primeiro andar: "Veja! é Santa Madalena, encarnada, Eis o formato de sua exuberância naquela sombra da janela", dizia em prantos. O policial mais velho, tinha um bigodinho tingido de preto, já que seus cabelos eram todos cor de nuvem, em dia ensolarada de parque do Ibirapuera. Já estavam lá o pipoqueiro, o senhor português com um carrinho de batatas fritas e amendoins doces, a caixa de isopor acima do ombro do jovem que gritava: "Refrigerante, água, cerveja. Quem vai querer?". Até mesmo um traficante de drogas portava maconha, cocaína e crack para o comércio, confesso que o movimento em volta dele estava maior que o do tiozinho que vendia algodão doce. Alguém disse que o papa foi chamado, até o serviço secreto dos Estados Unidos da América estava infiltrado naquele local. Fiquei por alguns minutos, sem descobrir o que realmente estava acontecendo. Foi o dia em que São Paulo parou, sem motivos aparentes, sem que soubessem explicar o que iniciou o tumulto e nem o que o fez sessar três dias depois. Uma coisa é certa, meu notebook está na ativa novamente. Gosto de ir à Santa Efigênia.

domingo, 19 de março de 2017

***

Os discos empoeirados que não tenho mais
Os livros abandonados, fora de ordem,
Na velha estante (que não está comigo)
As poesias que escrevi para você
                     [em papel almaço,
Desbotam na lixeira que foi embora
                  [com nosso chih tzu,
             [já cego e cheio de tumores
Ficou apenas o céu estrelado, noite fria
Cigarro e uísque,
Na rua, transeuntes que me ignoram
Num canto sujo de uma calçada qualquer
Do centro da cidade.

terça-feira, 7 de março de 2017

A despedida do profeta depois de vomitar palavras de amor

Os arcanjos choravam pétalas de falsos
                            [girassóis 
Enegrecidos pela fuligem oriunda de um 
Jovem bêbado que vomitava palavras de amor
Cenas de uma profecia celta,
Gravada nos tijolos de chaminés de fast food 
                     [estadunidense, de 1970
Os hieróglifos tingiram as masmorras 
                                [televisivas 
Incrustadas na testa do bestial
Inseto Gregor Samsa 
Os abutres blasfemam e confabulam frases 
                                   [místicas

Nas ruas estreitas do centro
Mártires bêbados trespassam os faróis 
Dos perdidos veículos

O cheiro elevava o enxofre das petrificadas 
Garrafas, do gramado da Praça da Sé
A coxa grossa e trôpega, caía na escusa
Boate do Vale do Anhangabaú 
Copérnico delirou com LSD, ao som de 
                              [Paulo Sérgio: 
“Meu filho, Deus que lhe proteja 
E onde quer que esteja, 
Eu rezo por você”

Logo no Arouche… nas noites de sexo, de 
                                      [Baco
A pútrida verdade desvia a conduta dos
                                 [botequins 
Impedindo as flâmulas de propagar
Das abelhas, seu nectar 
Nas caixolas dos temulentos do centro da
                                    [cidade

Eu poeta

Tenho que escrever ao menos duas poesias por dia,
Até fevereiro, quando meu livro de 
[coletâneas será publicado
Poderei dizer que sou poeta, 
Só assim declararei um sorriso falso
Vou a algum bar, pedirei uma cachaça de alambique
Na jukebox, uma seleção de José Augusto
Nesta data, poderei dizer que sou poeta 
E morrer feliz, mesmo que as dez cópias 
Não sejam lidas nem por meus filhos
Na lápide de meu túmulo estará escrito:
"aqui jaz o poeta que viveu para criar 60 poemas que não serão lidos"

Lambe-Lambe

No muro de um bar, um lambe-lambe com a foto do presidente
Uma frase de acusação de roubo ao país
No meu coração uma frase fincada na veia cava inferior dizia:
"Eu vou entupir este peito de saudades de você"

quarta-feira, 1 de março de 2017

Melancolia

Num dia de abrasivo céu azul
Debruçado sobre o papel amarelado pelo tempo
De minhas incompletas memórias
Curvou-se uma linda melancolia, de cores vivas
Pinceladas como as obras de Dali, Salvador
Aqueles segundos inventados fustigaram
Minha inacabada necessidade de silêncio
Com violento espanto, aquela aquarela destrutiva
pousara na velha matéria de celulose
Minha bebida aquietou-se e meu desassossego espiritual
Tornou-se louvores angelicais
Senti-me poeta de outrora mesmo que ilusão
A melancolia é bela e induz o poeta
A Transmutar-se em flor cativa,
Assim aquele sentimento lânguido repousa sobre mim.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Batida no portão

Um breu total, aquela escuridão só era amparada pela lua cheia, interrompida por nuvens cinza-triste.
Mãos no bolso.
- Cadê as chaves?
Três batidas no portão.
O arrepio subiu dos pés ao último fio de cabelo.
As mesmas três batidas, o mesmo ritmo que sempre utilizava quando este cenário recorria, no meu ombro, foram três toques terríveis, gelados e ninguém perto de mim.

Dia de azar

Hoje está parecendo que pisei em rastro de corno.

domingo, 12 de junho de 2016

Ode Contínua para Bombas, Piano e Metralhadoras

Suba as escadas escarlates,
Os degraus alérgicos,
Sangue degradado.

Rompi turvas lágrimas
Calafrios e respiração
[descontínua.

Ruas e becos assustadores,
horrores e lua cheia...
Uma bomba de dor
arranca a serena paz,
metralhadoras arraigadas.

Nuances de desespero,
piano ao fundo
Metralhadoras...
Chopin, Haydn...

Clarões trovejantes,
música desorientada...
Corpos arrancados, arte fúnebre...
Mortes.

Suba as escadas escarlates.

Fábula para Crianças de Colo

As víboras me atacam por medo e inveja.

"Amores-bolha" vêm e vão, com frases suaves e envenenadas, estouram e o que temos? O vazio, o nada, niilismo extremo.

Mas meu destino é ser Rei!

Vagabundos, bêbados e loucos são meu povo, os seguirei e eles me seguirão.

O que importa o resto? Escória, lixo nuclear, inumanos atômicos e desprezíveis!!!

Posso simplesmente pisá-los a cabeça e arrancar as víceras.

Farsantes. Dizem-se beatos e esfaqueiam-me a jugular... arrancam meu coração apodrecido e sorriem...

No Viaduto do Chá

(...)

Parou no viaduto, observou tudo, de vários ângulos. Jogou-se lá de cima, manchando o Vale do Anhangabaú.